CARL JUNG
‘Aquilo que guia obriga-te a seguir o caminho.’
Jung, O Livro Vermelho, 288.
Desde do tempo em que trabalhou no hospital psiquiátrico Burghölzli em Zurique, até a fase de sua auto exploração, Jung esforçou-se para compreender melhor o sofrimento mental; para ele por trás do caos havia sabedoria e propósito.
Ainda mantendo-se fiel à sua formação médica, Jung estava convencido da necessidade de olhar além e de realizar pesquisas de ponta. Seu interesse ao longo dos anos da psiquiatria mudou gradualmente da psicanálise e tipologia, para a teoria dos arquétipos e finalmente para a psicologia de temas religiosos.
A ‘jornada ao inconsciente’ de Jung tornou-se a grande mola mestra de onde se originou seu sistema psicológico. Seu modelo da psique, que ele considerava como uma polaridade, valoriza a imaginação na experiência humana na variedade de imagens que estão ao redor e dentro de nós.
Jung reconhecia a importância da qualidade curativa das experiências com o numinoso e acreditava que sua psicologia oferecia uma boa base para experienciar o numinoso de forma individual e não coletiva. Para ele, a neurose indicava ‘o sofrimento da alma que ainda não encontrou seu destino’. A análise junguiana é um processo de desenvolvimento do indivíduo e de ampliação da consciência.
OS LIVROS NEGROS
‘Uma grande tarefa estava diante de mim — eu via seu tamanho gigantesco — e seu valor e sentido esquivavam-se de mim… Essa trilha levava para dentro e para baixo.’
Jung, Os Livros Negros, vol. 2, 149.
Embora Os Livros Negros não tivessem sido inicialmente destinados à publicação, eles vieram a público em 2020 durante a pandemia do Coronavírus. São compostos por sete cadernos: o Livro 1 é uma introdução abrangente do editor Sonu Shamdasani; os Livros 2-7 consistem na experimentação visionária de Jung entre 1913 e 1932, também conhecida como ‘o confronto de Jung com o inconsciente’. Os Livros 2-5 fornecem o material para a primeira camada do Livro Vermelho. Desde sua publicação, Os Livros Negros foram traduzidos, até então, apenas para o português.
Juntos Os Livros Negros e O Livro Vermelho formam o texto seminal da psicologia analítica e suas publicações marcam uma nova era na compreensão para o trabalho de Jung. Essas obras têm aberto novas perspectivas e têm sido fundamentais na alteração do curso atual tanto da teoria, quanto da prática na psicologia junguiana.
O LIVRO VERMELHO
‘Todos os que perderam a conexão com sua própria alma ou que souberam como dar-lhe vida precisam ter uma oportunidade de ver este livro… um livro pode sacudir o mundo inteiro se for escrito com fogo e sangue’.
Cary Baynes para Jung em O Livro Vermelho, 118, n. 44.
A edição histórica do manuscrito original em alemão, acompanhada da tradução em inglês com notas de rodapé abrangentes, foi apresentada ao público em 2009. Esta edição insere O Livro Vermelho no contexto cultural da época de sua criação. Desde então já foi traduzido para 19 idiomas.
Sua narrativa descreve encontros e diálogos com uma série de figuras subliminares. Em sua jornada Jung percebe que juntamente com o ‘Espírito dessa Época’, ao qual já vinha se dedicando, existia outro espírito, o ‘Espírito da Profundeza’, que conduzia à alma.
O retorno de Jung à sua alma representa uma importante inversão hierárquica em seu pensamento com a ascendência da imaginação sobre a razão. Isso não significou que Jung tenha abandonado completamente a razão; ao contrário, a imaginação torna-se para ele um questionamento tão legítimo que ele submeteu seu intelecto a serviço das imagens. Para Jung a imagem não era um reflexo da realidade, mas sim um fenômeno primário no qual a realidade se originou.
O inconsciente e a imaginação podem ser compreendidos como um local, um mundo intermediário entre os reinos físico e mental. As imagens que nos chegam retratam a forma como o inconsciente percebe as situações experienciadas dentro de nós. Cultivar a alma é cultivar as imagens, uma vez que a psique é composta por uma multiplicidade de símbolos. Jung elaborou essa composição imaginal teoricamente em suas Obras Completas de ‘a psique objetiva.’